O tratamento da infecção pelo HIV passou por transformações profundas nas últimas décadas. O que antes O tratamento do HIV evoluiu de forma impressionante nas últimas décadas. O que antes exigia diversos comprimidos e provocava efeitos colaterais relevantes, hoje se resume a esquemas eficazes, seguros e simples. Além disso, novas opções injetáveis e de longa duração estão abrindo um novo horizonte na infectologia.
Neste artigo, o Dr. Cesar Barros, médico infectologista, explica o que há de mais moderno no tratamento atual do HIV e o que a ciência já projeta para os próximos anos.
Como funciona o tratamento do HIV?
O tratamento é feito com medicamentos chamados antirretrovirais (ARVs). Esses fármacos impedem que o vírus se multiplique, o que leva à redução da carga viral no sangue até níveis indetectáveis.
Além do controle clínico, há um dado extremamente importante: quem tem carga viral indetectável não transmite HIV por via sexual. Esse conceito — conhecido como “indetectável = intransmissível” — mudou completamente a forma de viver com o vírus.
Tratamento atual: mais simples, mais eficaz, mais leve
Uma das maiores conquistas da última década foi a simplificação dos esquemas terapêuticos. Hoje, já é possível controlar o HIV com apenas um comprimido por dia, com menos toxicidade e excelente adesão.
Terapia dupla: lamivudina + dolutegravir
O esquema formado por lamivudina e dolutegravir é uma das grandes inovações atuais. Ele reúne dois antirretrovirais potentes em um único comprimido diário, mantendo a eficácia da terapia com menos exposição a medicamentos.
Principais vantagens da terapia dupla:
- Menos efeitos colaterais a longo prazo
- Alta taxa de supressão viral
- Mais conforto e adesão ao tratamento
- Redução da toxicidade cumulativa
Quem pode usar:
- Pessoas com carga viral indetectável há pelo menos 6 meses
- Sem histórico de resistência aos medicamentos
- Com boa adesão ao tratamento anterior
- Após avaliação individualizada com médico infectologista
Novidade no Brasil: tratamento injetável de ação prolongada
Desde 2024, o Brasil passou a contar com uma nova alternativa para o tratamento do HIV: a combinação injetável de cabotegravir + rilpivirina, comercializada como Vocabria® + Rekambys®.
Esse esquema representa uma mudança importante, pois elimina a necessidade de tomar comprimidos todos os dias. Em vez disso, o paciente realiza aplicações bimestrais em ambiente clínico, após uma fase inicial com duas doses mensais.
Como funciona:
- Duas doses iniciais com intervalo de 30 dias
- Manutenção com uma aplicação a cada 2 meses
Indicação:
- Pessoas com carga viral indetectável
- Sem resistência documentada aos fármacos
- Com histórico de boa adesão
- Acompanhamento médico regular para as aplicações
Benefícios:
- Fim da necessidade de medicação oral diária
- Redução do estigma e do lembrete diário da condição
- Alternativa para quem tem dificuldade com adesão oral
Essa opção já está aprovada pela Anvisa e disponível em algumas redes privadas no Brasil.
O futuro: tratamento com aplicação semestral
Enquanto o presente já oferece avanços significativos, o futuro do tratamento do HIV promete ainda mais praticidade. Um dos maiores destaques é o lenacapavir, um novo antirretroviral que poderá ser administrado a cada seis meses.
Esse medicamento ainda está em fase de aprovação em diversos países, mas os resultados clínicos iniciais são animadores.
Vantagens do lenacapavir:
- Redução drástica no número de doses por ano
- Potência antiviral elevada
- Potencial uso em pacientes com resistência múltipla
- Maior liberdade para quem enfrenta barreiras de adesão
Essa nova classe de medicamentos representa um avanço rumo a um tratamento cada vez mais personalizado e menos intrusivo.
Conclusão
O tratamento do HIV hoje é mais eficaz, seguro e confortável do que nunca. As opções atuais, como a terapia dupla oral ou o esquema injetável bimestral, já permitem viver com qualidade e controle total da infecção.
E o futuro reserva ainda mais: com o avanço de fármacos como o lenacapavir, será possível oferecer esquemas com doses semestrais — o que pode revolucionar o cuidado com o HIV.
Se você vive com HIV, tem dúvidas sobre novos tratamentos ou quer reavaliar seu esquema atual, agende uma consulta. O acompanhamento com um infectologista é fundamental para adaptar o cuidado à sua realidade.
Dr. Cesar Barros – Médico Infectologista