Toxoplasmose na Gravidez: 5 Dúvidas Comuns Respondidas por Infectologista

Gestante em consulta pré-natal com infectologista recebendo orientações sobre diagnóstico, tratamento e prevenção da toxoplasmose na gravidez. Cena em clínica médica com material educativo ao fundo, representando cuidados essenciais durante a gestação.


Toxoplasmose na gravidez é uma condição que pode gerar dúvidas, insegurança e, principalmente, riscos reais para o bebê se não for diagnosticada e tratada corretamente. Neste guia completo, você entenderá quando o tratamento é realmente necessário, como identificar uma infecção recente e quais cuidados devem ser tomados para garantir uma gestação segura e saudável.

O que é toxoplasmose?

A toxoplasmose é uma infecção causada pelo protozoário Toxoplasma gondii. Apesar de, em pessoas saudáveis, geralmente passar despercebida, ela representa um risco significativo quando ocorre durante a gravidez, especialmente para o feto em desenvolvimento. A transmissão é comum e pode ocorrer de formas variadas, tornando a prevenção essencial durante o pré-natal.

Causa e transmissão

A infecção ocorre principalmente pela ingestão de alimentos contaminados com oocistos do parasita — como carnes cruas ou mal cozidas, frutas e vegetais mal higienizados — ou pelo contato direto com fezes de gatos infectados. Também pode ocorrer, mais raramente, por transfusão de sangue ou transplantes.

Ciclo do parasita 

Toxoplasma gondii

O ciclo de vida do Toxoplasma gondii envolve hospedeiros intermediários (como humanos, aves e outros mamíferos) e o hospedeiro definitivo, que são os felinos. Após a infecção, o parasita pode permanecer em forma latente nos tecidos, especialmente músculos, cérebro e olhos. Em situações especiais, como a gestação, ele pode atravessar a placenta e afetar diretamente o feto.

Gravidez e riscos da toxoplasmose congênita

Por que a toxoplasmose é perigosa na gestação?

Durante a gestação, a toxoplasmose na gravidez pode ser transmitida da mãe para o bebê pela placenta, condição chamada de toxoplasmose congênita. Essa forma da doença pode gerar sérias complicações para o bebê, como lesões cerebrais, oculares, microcefalia, hidrocefalia, calcificações intracranianas, retinocoroidite e até mesmo levar à perda gestacional.

Quando o feto pode ser afetado?

O risco de transmissão vertical varia conforme o trimestre da gestação. Nos primeiros três meses, o risco de transmissão é menor (cerca de 10-15%), mas as complicações tendem a ser mais graves. No terceiro trimestre, a taxa de transmissão pode chegar a 60-80%, embora os efeitos no feto tendam a ser mais leves ou até mesmo assintomáticos ao nascimento.

Sintomas da toxoplasmose na gestante

Casos assintomáticos e casos sintomáticos

A maioria dos casos de toxoplasmose na gravidez é assintomática, o que torna a sorologia pré-natal fundamental para o diagnóstico precoce. Em alguns casos, a infecção pode causar sintomas inespecíficos, semelhantes aos de uma virose leve: febre baixa, dor de cabeça, fadiga, dores musculares e aumento dos linfonodos cervicais (ínguas).

Justamente por essa apresentação silenciosa, a triagem sorológica é considerada parte essencial do acompanhamento obstétrico, principalmente em gestantes que ainda não possuem imunidade comprovada.

Diagnóstico da toxoplasmose na gravidez

Sorologia (IgG, IgM e teste de avidez)

O diagnóstico da toxoplasmose na gravidez é feito principalmente por meio de exames de sangue que identificam os anticorpos IgG e IgM. A presença de IgG indica exposição prévia ao parasita, enquanto o IgM sugere infecção recente ou em curso.

Em caso de IgM positivo, é essencial realizar o teste de avidez do IgG, que mede a força com que o anticorpo se liga ao antígeno. Um resultado de alta avidez geralmente indica infecção antiga (antes da gestação), enquanto baixa avidez sugere infecção recente e potencial risco para o bebê.

Testes confirmatórios e papel do infectologista

Quando os resultados sorológicos são indeterminados ou há suspeita de infecção recente, o infectologista atua em conjunto com o obstetra para orientar a investigação. Testes confirmatórios podem incluir exames moleculares, como PCR no líquido amniótico (após a 18ª semana), que ajudam a detectar se houve transmissão para o feto.

O papel do especialista é fundamental para interpretar corretamente os exames e definir a necessidade e o momento do tratamento.

É preciso tratar toxoplasmose na gravidez?

Riscos do não tratamento

Sim, é necessário tratar. Se a infecção for recente e não for tratada, o risco de transmissão para o feto aumenta consideravelmente. Além disso, há maior chance de complicações neurológicas e oftalmológicas graves para o bebê, especialmente em infecções no primeiro e segundo trimestres.

O tratamento tem como objetivo reduzir a carga parasitária no organismo da mãe e impedir a passagem do parasita pela placenta. Quanto mais precoce for a intervenção, maiores as chances de proteger o bebê.

Quando o tratamento é indicado?

O tratamento é indicado quando há suspeita ou confirmação de infecção aguda durante a gestação — ou seja, quando os exames mostram IgM positivo com avidez baixa ou indeterminada, ou quando o PCR fetal confirma infecção congênita. Em casos de infecção antiga, comprovadamente anterior à gravidez, o tratamento não é necessário.

Como é feito o tratamento da toxoplasmose na gravidez?

Medicamentos utilizados

O esquema terapêutico varia conforme o momento da gestação e a confirmação ou não de transmissão para o feto.

  • Se não há confirmação de infecção fetal: utiliza-se geralmente a espiramicina, um antibiótico seguro que atua como profilaxia fetal, reduzindo o risco de transmissão.
  • Se há confirmação ou forte suspeita de infecção fetal (PCR positivo): usa-se uma combinação de sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico, mais potente e voltada para tratar a infecção congênita.

Duração e monitoramento

O tratamento pode durar várias semanas ou até o final da gestação, com monitoramento constante de exames laboratoriais e ultrassonografias obstétricas especializadas. É fundamental manter acompanhamento conjunto com o infectologista e o obstetra.

O que muda se a infecção for antiga vs. recente?

A interpretação correta dos exames sorológicos é fundamental para diferenciar uma infecção antiga (adquirida antes da gravidez) de uma infecção recente (adquirida durante a gestação). Essa distinção é crucial, pois apenas as infecções adquiridas durante a gestação oferecem risco de transmissão para o feto.

Se a gestante apresenta IgG positivo e IgM negativo, trata-se de infecção passada, e não há necessidade de tratamento. Por outro lado, IgM positivo com IgG de baixa avidez indica infecção recente — situação que exige intervenção imediata. Casos com avidez intermediária ou inconclusiva devem ser acompanhados com mais exames e avaliação especializada.

Quando o bebê precisa ser tratado ainda na barriga?

Em casos de toxoplasmose na gravidez com confirmação de infecção fetal, o bebê pode precisar ser tratado ainda durante a gestação. Isso ocorre geralmente após a realização do PCR no líquido amniótico, colhido por amniocentese a partir da 18ª semana de gestação.

Se o resultado for positivo, indica que o feto foi infectado e, portanto, o esquema terapêutico mais completo (com sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico) será necessário. A introdução precoce dessa combinação pode reduzir significativamente a gravidade das manifestações clínicas no nascimento.

Além disso, ultrassonografias seriadas ajudam a monitorar possíveis sinais de complicações, como calcificações cerebrais, ventriculomegalia ou aumento do fígado e baço.

Qual o risco de transmitir para o bebê?

A chance de transmissão vertical da toxoplasmose varia de acordo com o trimestre da gestação em que a mãe foi infectada.

  • No primeiro trimestre, o risco de transmissão é menor (em torno de 10 a 15%), mas os efeitos sobre o feto tendem a ser mais graves, incluindo malformações do sistema nervoso central e oculares.
  • No segundo trimestre, o risco sobe para cerca de 25 a 30%, com possibilidade de manifestações neurológicas e visuais moderadas.
  • No terceiro trimestre, o risco pode chegar a 60 a 80%, embora os recém-nascidos sejam muitas vezes assintomáticos ao nascer — podendo desenvolver complicações oculares tardiamente, como retinocoroidite.

Esses dados reforçam a importância do diagnóstico precoce e do início imediato do tratamento para proteger o bebê.

O que acontece se a mãe não tratar a toxoplasmose?

Quando a toxoplasmose adquirida durante a gestação não é tratada, o risco de transmissão para o bebê aumenta significativamente. Isso pode resultar em quadros de toxoplasmose congênita, que variam desde manifestações leves até complicações graves e irreversíveis. Assim como em outras infecções tratadas na prática clínica, como as complicações da dengue, a abordagem precoce faz toda a diferença no prognóstico do paciente.

As possíveis consequências incluem alterações neurológicas como hidrocefalia, calcificações intracranianas, atraso no desenvolvimento psicomotor, além de lesões oculares que podem comprometer a visão ao longo da vida. Em alguns casos, há risco de aborto espontâneo ou morte fetal.

Por isso, mesmo quando a gestante está assintomática, a detecção de uma infecção recente exige avaliação e tratamento imediato.

O tratamento tem efeitos colaterais?

Sim, como qualquer tratamento medicamentoso, os medicamentos utilizados para toxoplasmose na gestação podem causar efeitos colaterais, embora sejam geralmente bem tolerados sob acompanhamento médico.

A espiramicina costuma ter um bom perfil de segurança e é bem aceita pelas gestantes. Já o esquema com sulfadiazina e pirimetamina, usado nos casos de infecção fetal confirmada, pode causar náuseas, vômitos, alterações hematológicas e reações cutâneas.

Por isso, é fundamental que esse tratamento seja conduzido por um infectologista em conjunto com o obstetra, com acompanhamento laboratorial frequente e uso concomitante de ácido folínico para proteger contra os efeitos adversos hematológicos.

Como prevenir a toxoplasmose na gravidez?

A prevenção é a principal estratégia para evitar a toxoplasmose congênita. O CDC (Centers for Disease Control and Prevention) orienta que gestantes redobrem os cuidados com alimentos crus, higienização e contato com gatos durante toda a gravidez.

Algumas medidas simples e eficazes devem ser adotadas durante toda a gestação:

  • Evitar o consumo de carnes cruas ou mal cozidas (como carpaccio, carne mal passada ou embutidos crus)
  • Lavar bem frutas, legumes e verduras antes do consumo
  • Utilizar utensílios separados para carne crua e alimentos prontos
  • Higienizar as mãos e as superfícies de preparo dos alimentos com frequência
  • Evitar o contato direto com fezes de gatos, principalmente em caixas de areia
  • Usar luvas ao mexer com terra ou jardinagem

Gestantes que convivem com gatos não precisam abandoná-los, mas devem evitar o manuseio direto da caixa de areia e reforçar os cuidados de higiene.

Quando consultar um infectologista?

O acompanhamento com um infectologista é essencial sempre que houver suspeita ou confirmação de toxoplasmose na gestação. Em situações similares, como ocorre em mulheres vivendo com HIV, o cuidado integrado com especialistas garante melhores resultados durante o pré-natal — conforme abordado no artigo Engravidar Vivendo com HIV: Cuidados e Considerações.

Este especialista é o profissional mais indicado para interpretar corretamente os exames sorológicos, orientar os testes complementares e indicar o tratamento mais seguro conforme o estágio da gestação e a possibilidade de infecção fetal.

Além disso, o infectologista atua em conjunto com o obstetra para definir o melhor plano terapêutico e garantir o monitoramento adequado da gestante e do feto, ajudando a prevenir complicações graves.

Consultar um especialista não apenas aumenta a segurança do tratamento, como também proporciona maior tranquilidade à gestante e à equipe de saúde envolvida no pré-natal.

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Acompanhamento do bebê após o nascimento

Mesmo com tratamento adequado durante a gestação, o bebê que nasceu de uma gestante com toxoplasmose deve ser avaliado cuidadosamente após o parto.

Esse acompanhamento envolve exames clínicos, laboratoriais e de imagem para detectar sinais de infecção congênita, como alterações neurológicas ou oculares. Muitas vezes, são solicitados exames de sangue específicos, ultrassonografia transfontanela e fundo de olho.

Nos casos em que a infecção congênita for confirmada, o bebê pode precisar de tratamento com medicamentos por até 12 meses após o nascimento, além de acompanhamento regular com infectologista pediátrico, neurologista e oftalmologista.

Conclusão

A toxoplasmose na gravidez é uma infecção que pode trazer sérios riscos se não for corretamente diagnosticada mas quando diagnosticada e tratada precocemente, a maioria dos casos evolui de forma segura tanto para a mãe quanto para o bebê.

O tratamento da toxoplasmose na gravidez é necessário sempre que houver infecção recente, e sua condução deve ser feita com apoio de um infectologista experiente.

O blog do Dr. Cesar oferece uma variedade de conteúdos educativos sobre infecções que podem afetar a gestação e a saúde sexual como um todo — confira mais em nosso Blog de Infectologia.

Além disso, medidas de prevenção são altamente eficazes e devem ser reforçadas desde o início do pré-natal.

O acompanhamento médico especializado é a chave para reduzir os riscos de transmissão e garantir um desfecho saudável para a gestante e seu filho.

Perguntas Frequentes (FAQ)

1. Toda gestante com toxoplasmose na gravidez precisa tratar?

Não. Apenas as gestantes que apresentam infecção recente (adquirida durante a gestação) precisam de tratamento. Casos com infecção antiga comprovada, adquirida antes da gravidez, não oferecem risco ao feto e, portanto, não requerem tratamento. O acompanhamento médico é fundamental para avaliar cada situação.

2. A toxoplasmose pode causar aborto?

Sim. Quando adquirida no primeiro trimestre da gestação, a toxoplasmose pode aumentar o risco de aborto espontâneo, morte fetal ou causar malformações graves no bebê. O diagnóstico e tratamento precoces ajudam a reduzir esses riscos.

3. Como saber se a infecção é antiga ou recente?

Através da análise dos anticorpos IgG, IgM e do teste de avidez do IgG. Um IgM positivo com IgG de baixa avidez sugere infecção recente. Já um IgG positivo com IgM negativo e avidez alta indica infecção antiga. A interpretação desses resultados deve sempre ser feita por um médico. De acordo com o Ministério da Saúde, o acompanhamento especializado é essencial, principalmente nos casos de IgM positivo ou avidez baixa, para definir a conduta terapêutica adequada.

4. O bebê sempre nasce com sequela se a mãe teve toxoplasmose?

Não. Se a infecção for diagnosticada e tratada corretamente durante a gravidez, é possível evitar ou minimizar os danos ao bebê. Muitos recém-nascidos podem nascer assintomáticos, especialmente quando o tratamento foi iniciado precocemente.

5. É seguro tratar toxoplasmose na gravidez?

Sim. Os medicamentos utilizados são seguros quando prescritos por um especialista e o tratamento é cuidadosamente monitorado. A espiramicina, por exemplo, é bem tolerada e amplamente utilizada. Já a combinação com sulfadiazina e pirimetamina exige mais atenção, mas também é eficaz e segura sob supervisão médica.

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