Como Saber Qual Esquema de PrEP é o Melhor para Mim: Contínua ou Sob Demanda?

Introdução

A PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) é uma estratégia comprovadamente eficaz na prevenção do HIV, indicada para pessoas que não vivem com o vírus, mas que se expõem a situações de risco. Ela envolve o uso de medicamentos antirretrovirais antes de uma possível exposição ao HIV, reduzindo drasticamente a chance de infecção. Mais do que uma tecnologia médica, a PrEP representa liberdade, autonomia e responsabilidade no cuidado com a saúde sexual.

Uma das principais dúvidas entre quem decide iniciar a PrEP é: qual o melhor esquema para o meu estilo de vida — o contínuo ou o sob demanda? A resposta depende de diversos fatores, como frequência das relações sexuais, previsibilidade dos encontros, disciplina com horários e até características pessoais de saúde e rotina.

Existem dois esquemas oficialmente reconhecidos e eficazes: o uso contínuo, com a medicação tomada todos os dias, e o uso sob demanda, indicado principalmente para quem tem exposições eventuais e pode planejar o momento da relação. Ambos oferecem proteção quando usados corretamente, mas possuem particularidades importantes.

Neste artigo, vamos detalhar as diferenças entre esses dois modelos, suas vantagens e limitações, perfis de usuários ideais para cada um, e — muito importante — explicar que é perfeitamente possível transitar entre os esquemas ao longo do tempo, conforme sua vida sexual muda. A escolha da melhor forma de usar a PrEP deve ser feita com informação, autoconhecimento e acompanhamento profissional.

PrEP Contínua x PrEP Sob Demanda: Entendendo os Conceitos

Antes de escolher o esquema mais adequado para você, é fundamental entender como funcionam as duas formas de uso da PrEP — contínua e sob demanda — e o que as diferencia em termos de rotina, eficácia e perfil de proteção.

PrEP Contínua: proteção diária

O esquema contínuo consiste na tomada diária de um comprimido contendo dois medicamentos antirretrovirais: tenofovir e emtricitabina. Essa estratégia mantém uma concentração constante da medicação no organismo, garantindo proteção ininterrupta contra o HIV, independentemente da frequência ou do momento das relações sexuais.

Esse modelo é ideal para pessoas que:

  • Têm vida sexual ativa com frequência imprevisível;
  • Mantêm múltiplas parcerias sexuais;
  • Não conseguem planejar quando terão relações;
  • Preferem uma rotina estável de prevenção.

Ao tomar o medicamento todos os dias, o usuário está protegido em qualquer situação de exposição, inclusive durante episódios de sexo espontâneo ou em situações em que o uso do preservativo não acontece.

PrEP Sob Demanda: proteção planejada

Já o esquema sob demanda, também chamado de “PrEP 2+1+1”, é indicado para pessoas que têm relações sexuais com menor frequência e conseguem prever com certa antecedência quando essas exposições acontecerão.

O protocolo é o seguinte:

  • Dois comprimidos de PrEP tomados entre 2 e 24 horas antes da relação sexual;
  • Um comprimido 24 horas após a primeira dose;
  • Outro comprimido 48 horas após a primeira dose.

Esse modelo reduz a exposição medicamentosa e se adapta bem a quem tem relações esporádicas, como aos finais de semana ou em ocasiões específicas. No entanto, exige maior disciplina e organização, já que a proteção depende do tempo correto da primeira dose antes da exposição.

Ambos são eficazes — quando usados corretamente

Diversos estudos, incluindo pesquisas com alto rigor científico na Europa e no Brasil, demonstraram que tanto o esquema contínuo quanto o sob demanda oferecem proteção semelhante contra o HIV quando seguidos corretamente. A escolha entre um e outro deve ser baseada no seu perfil comportamental, nas características do seu cotidiano e, acima de tudo, com orientação de um profissional qualificado.

Vantagens e Limitações da PrEP Contínua

A PrEP contínua é o modelo mais tradicional de uso da profilaxia pré-exposição ao HIV. Tomada diariamente, ela oferece uma cobertura constante e previsível, sendo especialmente indicada para pessoas com maior frequência de exposições sexuais ou para aquelas que desejam simplificar a tomada da medicação no seu dia a dia.

Vantagens da PrEP Contínua

1. Proteção constante, sem necessidade de planejamento prévio
A maior vantagem da PrEP contínua é garantir proteção todos os dias. Isso significa que o paciente está coberto mesmo quando ocorre uma relação sexual inesperada — o que é muito comum na vida real. A espontaneidade não compromete a eficácia.

2. Ideal para quem tem múltiplas parcerias ou frequência elevada de relações
Pessoas com vida sexual ativa regular, relações com diferentes parceiros ou envolvidas em redes sexuais de maior exposição se beneficiam muito da segurança contínua proporcionada pelo uso diário.

3. Mais fácil de manter como rotina fixa
Tomar um comprimido por dia, no mesmo horário, pode ser mais simples para quem já tem disciplina com medicamentos ou prefere não depender de cálculo de doses antes das relações. Com o tempo, o hábito se incorpora à rotina, como escovar os dentes.

4. Redução da ansiedade
Saber que a proteção está sempre ativa contribui significativamente para a tranquilidade emocional e a liberdade sexual. Muitos usuários relatam redução no medo do HIV e maior conforto nas relações íntimas.

Limitações da PrEP Contínua

1. Maior exposição medicamentosa
Por ser tomada todos os dias, mesmo em períodos sem relações sexuais, a PrEP contínua implica em uma exposição maior ao medicamento. Embora o perfil de segurança dos antirretrovirais utilizados seja excelente, é natural que alguns pacientes desejem minimizar o uso desnecessário de fármacos.

2. Possibilidade de efeitos colaterais leves e transitórios
Embora raros e geralmente passageiros, alguns efeitos colaterais como desconforto gastrointestinal, dor de cabeça ou alterações discretas nos rins e ossos podem surgir, especialmente nos primeiros dias de uso. Acompanhamento médico regular ajuda a monitorar e evitar complicações.

3. Custo em uso particular
Para quem opta por adquirir a medicação fora do SUS (em farmácias ou clínicas privadas), o uso contínuo pode gerar um custo maior ao longo do tempo, já que o consumo de comprimidos é diário.

Vantagens e Limitações da PrEP Sob Demanda

A PrEP sob demanda, também conhecida como “PrEP 2+1+1”, é uma alternativa segura e cientificamente validada para pessoas que têm exposições sexuais menos frequentes e conseguem planejar com antecedência o momento da relação. Ela oferece flexibilidade no uso da medicação, mantendo a eficácia quando utilizada corretamente.

Vantagens da PrEP Sob Demanda

1. Menor exposição ao medicamento
Como o uso da medicação é restrito a períodos próximos à atividade sexual, a quantidade total de antirretrovirais ingerida é consideravelmente menor. Isso é vantajoso para pessoas que desejam limitar o uso de medicamentos ou que apresentam sensibilidade a fármacos.

2. Ideal para quem tem relações sexuais esporádicas
Se você costuma ter relações apenas em finais de semana, em ocasiões específicas ou com intervalos irregulares, a PrEP sob demanda pode oferecer a proteção necessária sem obrigar o uso contínuo da medicação.

3. Flexibilidade e autonomia
O esquema permite que o usuário decida quando irá utilizar a PrEP, associando a tomada dos comprimidos a momentos pontuais. Essa autonomia pode aumentar o conforto e a adesão de quem não se identifica com uma rotina medicamentosa diária.

4. Custo reduzido (em uso privado)
Como o número total de comprimidos consumidos é menor, o custo financeiro da PrEP sob demanda, quando adquirida fora do SUS, também tende a ser reduzido — uma vantagem para quem arca com o tratamento de forma particular.

Limitações da PrEP Sob Demanda

1. Necessidade de planejamento prévio rigoroso
A principal limitação da PrEP sob demanda é que ela exige planejamento: a primeira dose (dois comprimidos) deve ser tomada de 2 a 24 horas antes da relação sexual. Se a relação acontecer de forma inesperada, sem o tempo adequado de preparo, o esquema perde sua eficácia.

2. Maior risco de erro de uso
O protocolo 2+1+1 requer disciplina: tomar dois comprimidos antes, um após 24h e outro após 48h. Caso o usuário se esqueça de alguma dessas doses, a eficácia da proteção pode ser comprometida, elevando o risco de exposição ao HIV.

3. Não indicada para todos os perfis
A PrEP sob demanda ainda não é recomendada para todas as populações. Estudos e diretrizes focam principalmente em homens cisgêneros que fazem sexo com homens (HSH), com relações anais receptivas. Para outros públicos, como mulheres cis, pessoas trans ou usuários com diferentes tipos de exposição, o esquema contínuo ainda é a primeira escolha.

Perfil do Usuário: Quem Deve Optar por Cada Esquema

A escolha entre a PrEP contínua e a PrEP sob demanda não deve ser baseada apenas na preferência pessoal, mas sim em uma análise cuidadosa do estilo de vida, frequência das exposições sexuais, organização da rotina e perfil clínico individual. Conhecer seu próprio corpo, seu comportamento sexual e suas necessidades ajuda a encontrar o esquema que oferece mais proteção, conforto e aderência ao longo do tempo.

Quando a PrEP contínua pode ser a melhor opção

A PrEP contínua tende a ser indicada para pessoas que:

  • Têm relações sexuais com frequência alta ou imprevisível;
  • Mantêm múltiplas parcerias sexuais, inclusive casuais;
  • Encontram dificuldade em planejar com antecedência suas relações;
  • Preferem um protocolo fixo, com horário regular, como parte da rotina diária;
  • Apresentam ansiedade com relação à proteção, mesmo em exposições planejadas.

Esse modelo também é o mais recomendado para perfis populacionais diversos, como mulheres cis, pessoas trans, trabalhadores do sexo e usuários de drogas injetáveis, para os quais os estudos de eficácia da PrEP sob demanda ainda são limitados ou inconclusivos.

Quando a PrEP sob demanda pode ser mais adequada

A PrEP sob demanda é especialmente útil para pessoas que:

  • Têm relações sexuais esporádicas ou com frequência previsível (ex: apenas em finais de semana ou viagens);
  • Conseguem planejar a primeira dose com ao menos 2 horas de antecedência;
  • Desejam reduzir a ingestão de medicamentos;
  • Têm boa memória para seguir o protocolo 2+1+1;
  • Não se sentem confortáveis com o uso diário de medicamentos sem necessidade contínua.

Esse esquema, por enquanto, tem indicação validada principalmente para homens cisgêneros que fazem sexo com homens (HSH), em relações anais, com eficácia semelhante à do uso contínuo.

E se meu perfil mudar?

A boa notícia é que não é necessário escolher um único esquema para sempre. Sua vida sexual pode mudar ao longo dos meses — e o esquema de PrEP pode (e deve) mudar junto. Um paciente pode usar a PrEP contínua em um momento de maior atividade sexual, e depois migrar para a PrEP sob demanda quando a rotina permitir. Essa flexibilidade é parte da inteligência da estratégia de prevenção e deve ser usada a seu favor, sempre com orientação médica.

A Possibilidade de Transitar Entre os Esquemas

Uma das grandes vantagens da PrEP como ferramenta de prevenção ao HIV é sua flexibilidade de adaptação à vida real. Ao contrário do que muitos imaginam, você não precisa escolher entre a PrEP contínua ou sob demanda e permanecer com essa opção indefinidamente. É totalmente possível — e em muitos casos recomendado — transitar entre os dois esquemas conforme a sua rotina sexual muda.

Posso mudar de contínua para sob demanda?

Sim. Se você iniciou a PrEP com o esquema diário porque tinha uma frequência maior de relações ou por questões de segurança emocional, mas sua vida sexual passou a ser mais espaçada e previsível, pode sim fazer a transição para o modelo sob demanda.

Essa mudança deve ser feita com o acompanhamento de um infectologista, que irá verificar:

  • Se o seu perfil de exposição realmente permite a adoção do 2+1+1 com segurança;
  • Se você está ciente da forma correta de tomar os comprimidos antes e depois das relações;
  • Se não há contraindicações clínicas específicas (como função renal comprometida ou uso de outros medicamentos que interfiram).

E se eu quiser voltar para o uso diário?

A transição inversa — de sob demanda para PrEP contínua — também é muito comum e recomendada quando:

  • A frequência das relações aumenta e fica difícil prever os encontros;
  • Há novas parcerias sexuais mais frequentes;
  • O usuário deseja mais liberdade sexual sem se preocupar com horários de dose;
  • Há receio de falhas no protocolo sob demanda.

O ideal é retomar a PrEP diária com pelo menos sete dias consecutivos de uso antes de contar com a proteção total, especialmente se você esteve por um período sem tomar os comprimidos.

A transição é segura quando feita corretamente

Tanto a mudança de um esquema para outro quanto o recomeço após uma pausa devem ser orientados por um profissional de saúde. O médico irá avaliar seu contexto atual, verificar possíveis riscos de infecção durante o intervalo, orientar sobre testagens de HIV e outras ISTs, e garantir que a retomada seja feita de forma segura.

Essa flexibilidade torna a PrEP uma ferramenta adaptável e duradoura, que pode te acompanhar ao longo das diferentes fases da sua vida sexual com segurança, tranquilidade e autonomia.

Como Avaliar Meu Perfil e Fazer a Escolha Correta

Saber qual esquema de PrEP é o mais adequado para sua vida vai muito além de preferências genéricas ou fórmulas prontas. Trata-se de um processo de autoconhecimento e análise da sua rotina sexual, comportamental e emocional. A boa notícia é que você não está sozinho nessa decisão — o acompanhamento com um infectologista de confiança é fundamental para garantir que a escolha seja segura e eficaz.

Frequência e previsibilidade das relações sexuais

Um dos primeiros pontos a considerar é com que frequência você se expõe a situações de risco para o HIV. Se as relações são frequentes, espontâneas ou com múltiplos parceiros, a PrEP contínua tende a oferecer mais proteção. Já se as exposições são ocasionais e você consegue prever quando elas vão acontecer, a PrEP sob demanda pode ser mais prática.

Também é importante observar se há variações bruscas na sua atividade sexual — como períodos de maior e menor frequência. Isso pode justificar a transição entre os dois modelos ao longo do tempo.

Organização e disciplina com medicamentos

A PrEP contínua exige uma dose por dia, idealmente sempre no mesmo horário. Já o uso sob demanda requer atenção rigorosa ao momento de iniciar e seguir o protocolo de forma exata. Ou seja, é essencial avaliar o quanto você é organizado com horários e se sente confortável em manter uma rotina fixa ou se adapta melhor a um uso pontual.

Você costuma esquecer de tomar comprimidos ou atrasar horários? Se sim, talvez o modelo contínuo — mais fácil de automatizar na rotina — seja mais viável. Por outro lado, se você é bem disciplinado e tem uma vida sexual planejada, o sob demanda pode funcionar perfeitamente.

Planejamento sexual e autonomia

Muitas pessoas relatam que se sentem mais confiantes ao usar a PrEP contínua, justamente por saberem que estão protegidas “por padrão”. Outras preferem não tomar medicamentos todos os dias, principalmente em períodos em que não estão se relacionando.

Reflita: você costuma planejar seus encontros sexuais com antecedência? Tem parceiros fixos ou casuais? Enxerga o uso da PrEP como algo que traz leveza ou como um esforço adicional? Suas respostas vão indicar o caminho mais confortável para o seu perfil.

Conversa com o infectologista: fundamental na decisão

Mesmo com toda essa reflexão, é o diálogo com o médico que vai consolidar a escolha. O infectologista poderá avaliar aspectos clínicos, como função renal, interação com outros medicamentos, histórico de ISTs, sorologia atual e estilo de vida, além de responder dúvidas específicas sobre o uso da medicação.

Escolher o esquema certo é um exercício de responsabilidade e autocuidado — e não existe resposta única. O melhor esquema é aquele que funciona na sua vida real, com suas imperfeições, mudanças e ritmos.

O Que Acontece se Eu Errar o Esquema?

A eficácia da PrEP — seja no modelo contínuo ou sob demanda — depende diretamente do uso correto. No entanto, é natural que em algum momento aconteçam esquecimentos, atrasos ou falhas na rotina. A boa notícia é que, mesmo nesses casos, é possível agir com responsabilidade para minimizar os riscos. O mais importante é não entrar em pânico e procurar orientação profissional o quanto antes.

Esqueci uma dose na PrEP contínua: e agora?

Se você usa a PrEP todos os dias e esqueceu uma dose, o impacto depende do tempo sem tomar o medicamento:

  • Se o esquecimento foi de apenas um dia, a proteção geralmente se mantém, principalmente se você vinha tomando regularmente antes disso. Retome a medicação assim que lembrar.
  • Se você esqueceu dois ou mais dias consecutivos, pode haver queda nos níveis de proteção. Neste caso, evite exposições até completar novamente sete dias consecutivos de uso, ou fale com seu médico para reavaliar sua proteção atual.

A PrEP contínua tem uma margem de segurança razoável, mas a adesão diária consistente é o ideal para garantir cobertura total.

Errei o tempo no protocolo sob demanda: perdi a proteção?

Sim, o protocolo 2+1+1 precisa ser seguido com precisão para garantir proteção eficaz. Alguns erros comuns incluem:

  • Tomar os dois comprimidos iniciais com menos de 2 horas de antecedência;
  • Esquecer de tomar a dose de 24h ou 48h depois da primeira;
  • Iniciar o esquema após a exposição (o que caracteriza PEP, não PrEP).

Se isso acontecer, o risco de infecção aumenta. Nestes casos, é essencial procurar um serviço médico imediatamente para avaliar a necessidade de iniciar a PEP (Profilaxia Pós-Exposição), que deve ser iniciada idealmente em até 72 horas após o risco.

Testagem regular: o pilar silencioso da prevenção

Seja qual for o esquema utilizado, a testagem regular para HIV e outras ISTs deve fazer parte da rotina do usuário de PrEP. Ela permite identificar exposições recentes, confirmar a eficácia do uso e detectar qualquer falha antes que ela se torne um problema maior.

O ideal é realizar testagens a cada três meses — e com maior frequência em situações específicas, como mudança de parceiros, sintomas sugestivos de infecção ou falha no uso do medicamento.

Errou? Retome com responsabilidade

O mais importante diante de um erro é não interromper a PrEP sem orientação médica. Em vez disso, retome o uso corretamente, observe os sintomas nos dias seguintes e faça o teste de HIV no tempo recomendado. Com acompanhamento e diálogo, é possível seguir com segurança e confiança.

Acompanhamento Médico e Individualização

Embora a PrEP seja uma estratégia preventiva altamente eficaz e acessível, seu uso seguro e duradouro depende de algo essencial: acompanhamento médico regular e individualizado. Nenhum protocolo — por mais bem estruturado que seja — substitui a análise personalizada feita por um profissional que conhece a sua saúde, seu estilo de vida e suas necessidades.

O infectologista como parceiro na prevenção

O infectologista é o especialista mais indicado para acompanhar pacientes em uso de PrEP. Esse profissional não apenas prescreve a medicação, mas também avalia a saúde geral do paciente, solicita os exames de acompanhamento e orienta sobre a melhor forma de uso conforme a realidade de cada pessoa.

Ao longo do tempo, a relação com o médico se torna uma parceria de cuidado: ele entende seus hábitos, seus medos, sua rotina sexual e está pronto para orientar mudanças no esquema de uso, quando necessário.

Avaliações periódicas: mais do que uma formalidade

Durante o acompanhamento, o médico solicitará exames laboratoriais regulares, como:

  • Testes de HIV a cada 3 meses;
  • Sorologias para outras ISTs (sífilis, hepatites, gonorreia, clamídia);
  • Avaliação da função renal (especialmente nos primeiros 6 meses e depois anualmente);
  • Exames adicionais caso surjam sintomas ou alterações clínicas.

Esses exames garantem que a PrEP continue sendo segura para você e que eventuais infecções sejam detectadas precocemente, permitindo tratamento imediato.

Ajustes e decisões ao longo do tempo

À medida que sua vida sexual muda — seja pelo início ou término de um relacionamento, viagens, alterações de rotina ou mudanças emocionais — o uso da PrEP também pode (e deve) ser adaptado. O acompanhamento médico torna essas transições mais seguras e bem orientadas, com estratégias sob medida para manter sua proteção sempre em dia.

Além disso, é nesse espaço de escuta qualificada que você pode tirar dúvidas, desconstruir medos e reforçar sua autonomia. O objetivo não é apenas evitar o HIV, mas promover saúde sexual com liberdade, consciência e responsabilidade.

PrEP e Qualidade de Vida Sexual

Mais do que um protocolo médico, a PrEP representa uma verdadeira transformação na forma como as pessoas se relacionam com sua saúde sexual. Seu impacto vai além da prevenção biomédica do HIV: ela promove autonomia, segurança emocional e liberdade para viver a sexualidade com mais tranquilidade.

Redução da ansiedade e do medo

Para muitas pessoas, o medo do HIV era um fator constante durante (ou depois) das relações sexuais. Esse receio gerava tensão, culpa, paranoia com sintomas imaginários e uma busca incessante por testagens — mesmo sem exposição clara. Com a PrEP, esse ciclo se rompe.

Saber que você está protegido de forma eficaz reduz a ansiedade e permite que o prazer esteja mais presente nas relações. Esse benefício emocional é frequentemente relatado por usuários de PrEP como um dos principais ganhos do tratamento.

Liberdade com responsabilidade

A PrEP não incentiva o sexo desprotegido, como muitos mitos sugerem. Pelo contrário: ela oferece a oportunidade de viver a sexualidade com mais consciência, porque promove acesso a testagens frequentes, acompanhamento médico e educação em saúde.

O paciente que usa PrEP se envolve com sua prevenção, entende os riscos, se cuida e se coloca no centro do seu próprio processo de saúde. Isso fortalece a relação consigo mesmo e com os parceiros.

Empoderamento e autocuidado

Escolher usar PrEP — seja no esquema contínuo ou sob demanda — é um gesto de responsabilidade e amor-próprio. É dizer: “eu me cuido, eu me conheço, eu estou no controle da minha saúde sexual”. Esse empoderamento tem impacto direto na autoestima, na qualidade dos relacionamentos e na construção de uma vida afetiva mais segura e plena.

A sexualidade é parte integral da saúde. E quando ela é vivida com liberdade, proteção e tranquilidade, toda a qualidade de vida se eleva.

Mitos e Verdades Sobre a PrEP sob Demanda

Apesar de amplamente estudada e aprovada por órgãos internacionais de saúde, a PrEP sob demanda ainda é cercada por dúvidas, equívocos e mitos. Entender o que é verdade e o que é desinformação ajuda você a fazer escolhas seguras e baseadas em evidências — não em medo ou suposições.

“A PrEP sob demanda não funciona tão bem quanto a contínua.”

Mito.
Estudos de alta qualidade, como o IPERGAY (realizado na Europa), demonstraram que a eficácia da PrEP sob demanda é comparável à da PrEP contínua — quando utilizada corretamente. A chave está na adesão precisa ao protocolo 2+1+1 e no fato de que o esquema é indicado para situações específicas, como exposições esporádicas em homens cis que fazem sexo com homens (HSH).

Para esse público, a proteção é sólida. Para outros perfis (como mulheres cis, pessoas trans e usuários com outros tipos de exposição), a evidência ainda é limitada, e o esquema contínuo permanece o mais recomendado.

“A PrEP sob demanda é só para quem é solteiro ou tem pouca atividade sexual.”

Mito.
Embora o esquema sob demanda se adapte bem a pessoas com menor frequência de relações, isso não significa que seja exclusivo para solteiros ou pessoas com “pouca vida sexual”. O importante é a previsibilidade: se você consegue planejar sua atividade sexual com algumas horas de antecedência, independentemente da frequência, pode se beneficiar da PrEP sob demanda.

Há usuários que têm uma vida sexual ativa, mas concentrada em momentos específicos (ex: finais de semana ou viagens), e que preferem esse modelo para reduzir o uso diário da medicação.

“É perigoso alternar entre os esquemas.”

Mito.
Pelo contrário: transitar entre o uso contínuo e sob demanda é seguro e até encorajado, desde que feito com orientação médica. A vida sexual muda, e a PrEP pode — e deve — se adaptar a essa realidade. O importante é ter acompanhamento profissional para garantir que a transição ocorra de forma segura, sem brechas na proteção.

“Se eu errar uma dose na PrEP sob demanda, estou desprotegido.”

Parcialmente verdade.
O protocolo 2+1+1 precisa ser seguido com precisão. Se a primeira dose (2 comprimidos) for tomada com menos de 2 horas antes da exposição ou se as doses seguintes forem esquecidas, a proteção pode ser comprometida. Por isso, disciplina e compreensão do protocolo são fundamentais. Em caso de erro, o ideal é buscar orientação médica rapidamente.

“A PrEP sob demanda é mais difícil de seguir.”

Depende do perfil do usuário.
Para quem tem uma rotina organizada, boa memória e consegue prever com antecedência quando vai ter relações sexuais, a PrEP sob demanda é totalmente viável. Para outros, pode ser mais fácil manter a regularidade com a dose diária. A escolha deve considerar seu estilo de vida, e não um modelo idealizado.

Acesso à PrEP no Brasil

Uma das maiores conquistas da saúde pública brasileira nos últimos anos foi a incorporação da PrEP no Sistema Único de Saúde (SUS). Hoje, o Brasil é referência internacional ao oferecer gratuitamente esse método altamente eficaz de prevenção ao HIV. O acesso à PrEP está disponível em diversos serviços públicos de saúde, centros de testagem e clínicas especializadas espalhadas por todo o país.

Quem pode acessar a PrEP pelo SUS?

A PrEP é indicada para pessoas HIV-negativas que apresentam maior risco de exposição ao vírus, como:

  • Homens cisgêneros que fazem sexo com homens (HSH);
  • Mulheres e homens trans;
  • Profissionais do sexo;
  • Pessoas com múltiplos parceiros sexuais ou com histórico recente de ISTs;
  • Parceiros sorodiferentes (em que um é HIV positivo e o outro não).

A avaliação é feita individualmente e inclui uma entrevista clínica, testagem para HIV, exames de sangue e orientações sobre o uso correto do medicamento.

Onde iniciar a PrEP

Você pode procurar a PrEP nos seguintes locais:

  • SAE (Serviços de Atenção Especializada em IST/HIV/AIDS);
  • CTA (Centros de Testagem e Aconselhamento);
  • Unidades Básicas de Saúde que aderiram ao programa de prevenção combinada.

No site do Ministério da Saúde, é possível encontrar uma lista atualizada com os endereços e contatos dos serviços que oferecem PrEP pelo SUS. Também é possível iniciar o processo via aplicativos e plataformas digitais que conectam usuários aos serviços de saúde pública, como o aplicativo Conecte SUS.

PrEP em clínicas privadas

Além do SUS, clínicas particulares e infectologistas especializados, como o Dr. Cesar Barros, oferecem acompanhamento completo para quem deseja iniciar a PrEP de forma personalizada, com mais agilidade, privacidade e possibilidade de adaptação flexível entre os esquemas contínuo e sob demanda.

Esse acompanhamento é ideal para quem busca um plano de saúde sexual mais completo, com consultas detalhadas, acesso rápido a exames, possibilidade de telemedicina e maior atenção às especificidades de cada paciente.

A PrEP é um direito

É importante reforçar: a PrEP é um direito seu. Nenhuma pessoa que se encaixe nos critérios clínicos deve ser desencorajada ou constrangida ao buscá-la. A prevenção do HIV é um compromisso coletivo com a vida, a saúde e a dignidade — e o acesso à informação e aos recursos deve ser garantido a todos.

Conclusão

Escolher o melhor esquema de PrEP — contínua ou sob demanda — não é apenas uma questão técnica. É um exercício de escuta do próprio corpo, compreensão da sua rotina sexual e diálogo aberto com um profissional de saúde que respeita suas escolhas e individualidades.

Ambos os esquemas são seguros e eficazes quando usados corretamente. A PrEP contínua oferece proteção diária, ideal para quem tem uma vida sexual mais frequente ou imprevisível. Já a PrEP sob demanda é perfeita para quem tem relações esporádicas e pode planejar com antecedência.

Mas talvez o aspecto mais importante seja lembrar que você pode transitar entre esses dois modelos sempre que for necessário. Sua vida muda, suas relações mudam, e a forma como você se cuida também pode — e deve — mudar. A flexibilidade da PrEP permite justamente isso: adaptar a prevenção à sua realidade, sem culpa, sem rigidez, e com autonomia.

Por isso, converse com um infectologista, avalie seu momento atual, tire dúvidas, e inicie a PrEP de forma consciente. Cuidar da saúde sexual é um ato de liberdade, autocuidado e amor-próprio. E você merece viver essa jornada com segurança, informação e tranquilidade.

Perguntas Frequentes (FAQs)

1. Posso mudar de PrEP contínua para sob demanda a qualquer momento?
Sim. Desde que haja acompanhamento médico, é possível fazer a transição entre os dois esquemas de forma segura, respeitando o tempo necessário para que o medicamento atinja níveis protetores no organismo.

2. A PrEP sob demanda é menos eficaz que a contínua?
Não. Para homens cisgêneros que fazem sexo com homens (HSH) em relações anais, a eficácia da PrEP sob demanda é comprovadamente semelhante à da PrEP diária, desde que o protocolo seja seguido corretamente.

3. Quais exames preciso fazer para iniciar a PrEP?
Você precisa realizar teste de HIV, avaliação da função renal, sorologias para outras ISTs (como sífilis e hepatites) e testes rápidos de triagem. Tudo isso pode ser feito no SUS ou em clínicas privadas.

4. A PrEP engorda ou causa efeitos colaterais?
Não há evidência de que a PrEP cause ganho de peso significativo. Os efeitos colaterais, quando ocorrem, geralmente são leves (como náuseas ou dor de cabeça) e tendem a desaparecer nos primeiros dias de uso.

5. Posso usar a PrEP só nos finais de semana?
Sim, se você optar pelo modelo sob demanda e seguir corretamente o protocolo 2+1+1. É importante planejar a primeira dose com no mínimo 2 horas antes da relação sexual e seguir as doses subsequentes de forma rigorosa.

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Dr. Cesar Barros -Médico Infectologista - CRM/SP 138.594 - RQE 37.952

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